A história de 38 famílias de judeus que foram expulsas, em 1904, da região da Bessarábia e vieram lutar por uma nova vida na Colônia Philippson, atualmente Itaara, será tema de filme que está sendo capitaneado pelo ator da Globo José de Abreu. Durante a cobertura da viagem do 1º voo da Gol de Congonhas a Santa Maria, na terça, Abreu estava no aeroporto e se sentou bem na frente de onde eu e integrantes da prefeitura de Santa Maria estávamos. Decidimos comentar que éramos de Santa Maria, e o ator logo afirmou: “Santa Maria da Boca do Monte. Quero fazer um filme sobre os judeus que foram para lá em 1904. Minha ex-mulher tem origem de lá.” A Bessarábia era uma região do antigo Império Russo, onde viviam muitos judeus. Atualmente, parte dessa região fica na Ucrânia, e outra parte, na Moldávia. A seguir, Abreu aceitou dar a entrevista para explicar sobre esse projeto, que foi registrado na Ancine em 2010, mas agora está tentando tirar do papel. O vídeo está no site do Diário.
Diário – Como será esse filme?
José de Abreu – É um longa-metragem escrito pelo Marcos Bernstein, um diretor e roteirista. É um dos roteiristas de Central do Brasil, já dirigiu Meu Pé de Laranja Lima e é diretor e autor de novelas da Globo. A gente fez esse roteiro, e ele escreveu esse roteiro com base em uma pesquisa. Eu pesquiso o Barão Hirsch, que foi o homem que trouxe os primeiros judeus imigrantes para o Brasil, na região que naquele tempo era Santa Maria da Boca do Monte. É um roteiro das crianças que chegaram da Bessarábia para colonizar a região onde hoje tem o Cemitério Philippson. Mas é um filme difícil de fazer, porque as crianças falam iídiche (língua germânica ocidental e, na atual Ucrânia, foi considerada língua nacional do povo judeu em 1908). Eu estive no Canadá, selecionando, há uns 10 anos, quando começou a ideia. Depois, ficava muito caro trazer família inteira junto das crianças.
Diário – O que retrata o filme?
Abreu – Esse filme está sendo analisado por algumas produtoras. Talvez a gente mude e faça as crianças falar em português mesmo, talvez com sotaque ou alguma coisa assim para tornar o filme possível. É uma história muito bonita. A mistura daqueles meninos judeus com os gaúchos. Os judeus não sabiam andar a cavalo, e os gaúchos ensinando toda a lida do campo para essa gente, e que resultou nos Matone, nos Scliar, nos Sirotsky, nos Maxion, nos Steinbruch, pessoas muito importantes na vida econômica brasileira e que surgiram como mendigos, chegaram em Santa Maria como mendigos, expulsos da Bessarábia pelo czarista russo. É um sonho muito grande. É de lá que vieram meus filhos e meus netos. Eu fui casado com uma atriz, professora, Nara Vladmirsk Scliar Nicolaiévsky, em que os quatro avós vieram para Philippson. É uma história que eu gostaria de contar.
Diário – E o nome do filme será qual?
Abreu – É “Onde os Porcos Comem Laranjas”, porque o Barão de Hirsch, que foi um benemérito judeu, para trazer todo mundo para o Brasil e para a Argentina, fez folhetos onde laranjais eram tão cheios que as laranjas encostavam no chão, e os porcos, que é uma comida que judeu não come, comiam as laranjas. E na Bessarábia, laranja, dividiam uma pela família inteira. Era uma coisa muita cara. Então, uma maneira de atrair as pessoas para o Brasil e para a Argentina, era dizer isso: “A terra até onde os porcos podem chupar laranja”. É muito interessante. Na Argentina, são 16 colônias, no Brasil, foram só duas. Tem muito material, dá para fazer um seriado. Quem sabe?!